Nome completo
Shayene Gonçalves
Idade
17 anos
Onde estudas e em qual ano estás?
3º do Ensino Médio, no Colégio Estadual Protásio Alves. Comecei o Ensino Médio no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, onde eu queria muito estudar, mas no meio do ano resolvi mudar. Achei a escola grande e a direção um pouco difícil, então mudei para cá no meio do ano. Meu padrasto é professor no Protásio, então ele me avisou que havia vagas e eu vim. Foi bem melhor eu ter vindo para cá, porque aqui eu percebi que há uma preocupação com a inclusão muito grande. Me senti acolhida e assistida desde que entrei aqui. Aqui é uma escola menor, a gente conhece todo mundo. Cheguei sem conhecer ninguém, e do nada eu já conhecia todos os alunos do 3º ano. E até Os professores são muito preocupados, a Kátia Martini Labarthe, que é a vice-diretora, ela está sempre passando em sala, no pátio está sempre todo mundo ali, a gente vai trocando e se conhecendo melhor. Não sei se é por ser uma escola menor, talvez não seja esse o motivo, mas o certo é que eu me senti muito acolhida. O Ensino Fundamental eu estudei no Trancredo Neves, mas não todo, parte dele eu fiz em outra escola que eu não lembro o nome, foi o período que eu morei com o meu pai.
Teus pais são separados?
Sim.
Com quem moras e onde?
Na Hípica, Zona Sul, com a minha mãe, meu padrasto, minha irmã mais nova, de 15 anos, e a filha do meu padrasto, que tem 9.
Que idade tu tinhas quando eles se separaram?
Uns três anos.
E como foi esse período em que moraste com ele?
Eu tinha uns 6, 7 anos. Não funcionou, não que não tenha sido legal. A minha mãe é muito prática e objetiva, ela é bem parecida comigo. Depois de um ano, ela quis nos pegar de volta, a escola que eu estava era municipal e eu passava de ano mesmo sem saber.
E isso a motivou?
Sim.
E tu convives com ele?
Agora não tanto porque ele está morando em Viamão. Eu saio do colégio, vou para o estágio e de noite eu estou fazendo cursinho pré-vestibular. É muita coisa, não sobra tempo e esse é um ano decisivo para mim.
Tu estás fazendo estágio?
Sim, em uma loja de joias ali na Galeria do Rosário. É muito bom, o meu chefe é muito bom, ele me dá muita abertura, ele me corrige e me ensina muito, mas sem autoritarismo, apesar de que chefe é chefe.
O que tu fazes lá?
Atendimento ao público.
Desde quando?
Desde fevereiro. Já fechei um contrato e estou no segundo que acaba em dezembro.
Teu primeiro trabalho?
Sim. Eu sou como a minha mãe, não gosto de ficar parada, e senti que precisava fazer alguma coisa e porque queria ganhar uma grana.
Qual o horário que tu cumpres lá?
Começo às 13h30min e fico até 18h30min. Tenho um intervalo às 17h.
Então, tu sai direto do Colégio e vai pra lá. Dá tempo de almoçar?
Sim, em restaurantes ali perto do estágio, quase sempre em lugares diferentes. Eu ganho o almoço no estágio.
E depois do trabalho?
Saio de lá e vou para o cursinho Universitário, na Dr. Flores, ali pertinho.
Desde quando tu estás fazendo o cursinho?
Desde maio e vai até à véspera de todas as provas da UFRGS.
Tua mãe é quem paga o cursinho?
Não, eu que estou pagando com o dinheiro que recebo do estágio. Fui eu mesma que decidi fazer, eu só disse para ela que ela precisava ir lá assinar. Resolvi dar um destino melhor para o meu dinheiro do que simplesmente gastá-lo.
Que horas começa e termina o cursinho?
É das 19h15min às 22h30min.
Depois, vais direto para a casa?
Sim, pego o ônibus e vou para a casa.
E chega em casa tarde e exausta.
Exausta. Mas às vezes bate de eu encontrar a minha mãe na volta no ônibus e a gente voltar juntas, pois ela está fazendo o curso técnico em Edificações no Colégio Parobé.
No que a tua mãe trabalha?
Ela trabalha na parte administrativa em uma empresa de Marketing.
E essa rotina é assim todos os dias, de segunda à sexta?
Todos.
Que curso vais tentar no vestibular da UFRGS?
Arquitetura.
Por quê?
Eu não sei, mas desde muito pequena eu gosto da ideia de ser arquiteta, de desenhar. A gente passeava de carro e eu sempre recolhia aqueles fôlderes de apartamento, adorava ficar vendo as plantas, eu gosto muito dessa ideia, de fazer casa, de planejar, de pensar nas coisas bonitinhas. Não que eu goste muito de Matemática, mas me imagino muito criando e desenhando desde muito nova.
Qual disciplina tu mais gostas de estudar?
História. Filosofia e Sociologia também. Saber como a gente chegou até aqui, o que deu certo, o que deu errado, eu gosto de ler e estudar sobre tudo isso, isso mexe com a nossa cabeça.
Tem alguma coisa que tu não gostes no colégio?
Às vezes, falta um pouco de organização, mas observo que não é aqui, é geral. E às vezes não é nem um problema da direção, é é um problema muito maior.
Que problema?
Que nossos governantes olhem para a educação e para a escola e percebam que a gente precisa deles, de apoio, como por exemplo, aumentar o valor da merenda. Porque alimentação é uma coisa importante para tu conseguires ter energia e disposição para prestar atenção na aula. Por exemplo, o Protásio ficou fechado um tempo porque teve uma rachadura no prédio há um tempo atrás, eu estava no 1º ano. Depois, os telhados quebraram, o terceiro andar ficou um tempão interditado e se eles tivessem olhado para isso antes, que precisava de reforma, talvez não tivéssemos perdido tanto tempo. E sobre a questão dos professores: é muito chato ter de ficar parado sem aula por causa da greve, mas eu já vi professor que não conseguia vir para a aula porque não tinha dinheiro para a passagem ou que não conseguia pagar contas em dia. Aí, eles chegam aqui e não conseguem dar uma aula boa, eles não conseguem estimular os alunos a estudar para fazer uma faculdade para ter uma vida melhor porque eles simplesmente fizeram esse caminho e isso não aconteceu. Tudo isso tinha de ser olhado de maneira diferente. Dar atenção para isso é fundamental porque não dá para a gente querer que só direção e os professores façam milagres.
Tu te sentes ouvida como jovem?
Sim. Desde que eu cheguei aqui eu vi que há abertura por parte da direção, que eles nos procuram e nos estimulam a falar. A Kátia (diretora) nos procura muito para saber o que a gente quer saber, o que a gente precisa. Isso, inclusive, foi um dos motivos que me fizeram ir para o GE, para ajudar a direção e atender as demandas dos alunos, porque é muita coisa exigida. Não dá para ser atendido? Vamos ver tudo o que podemos fazer então para melhorar o problema. Eu adoraria ter feito um trabalho melhor esse ano, mas foi muita coisa no 3º ano, trabalho, cursinho, depois teve a greve, mas eu sei que, pelo menos, a minha parte. A gente teve a Semana da Mulher, uma semana inteira de debates, depois a Semana LGBT, agente queria o dia da Consciência Negra e um Campeonato de Futebol, mas por causa da greve não aconteceu. A gente sempre passa nas salas para ver se eles querem dar sugestões, falar, sugerir coisas, dizemos que a porta do Grêmio está sempre aberta… Adolescente é às vezes meio quieto, na dele, às vezes a gente tem de passar duas vezes.
E eles participam? Se envolvem?
Não como a gente gostaria, mas alguma coisa, sim.
Desde quando tu estás no GE e por quê?
Assumimos este ano letivo. Eu escolhi fazer parte para ajudar os jovens a serem mais ouvidos, apesar da direção e da escola darem abertura, a gente sempre pode contribuir. Eu já tinha uma boa relação com a Kátia. É mais fácil as pessoas nos passarem e a gente conversar por já conhecer ela e tentar fazer a coisa acontecer do que vir um monte de aluno e despejar as coisas no colo dela e ela não saber o que fazer. E uma coisa legal é que o GE é formado por pessoas de ideologias diferentes e visões de mundo diferentes, mas a gente se juntou e trabalha juntos pelo bem da escola, para a gente saber conviver com todos, porque isso é o mais importante. Não adianta a gente fazer só o que a gente quer.
Tu gostas de ler?
Gosto.
O que estás lendo?
Tem as obras do vestibular…
Já leste todas?
Não. Agora, para ser bem sincera, não estou lendo nenhum livro, mas acabei recentemente a biografia de Frida Kahlo, uma figura que eu gosto muito, que foi importante e com uma história marcante. Do vestibular eu estou lendo os resumos porque se eu for deixar para ler tudo agora não dá tempo, tinha de ter começado antes. Eu quero um dia ler esses livros inteiros.
Do que gostas de fazer quando está fora da escola?
Eu gosto muito de festas, de praia, de estar com os meus amigos e família apenas conversando, trocando uma ideia.
O que tu queres para o futuro, e como a educação pode ajudar nesta construção?
Que quem tem o poder e voz olhe para a educação com outros olhos, que passem a dar o devido apoio, os professores tenham valorização, a escola, estrutura… E aí talvez depois disso mudar o currículo porque, por exemplo, eu fiz o Enem e se a gente comparar a qualidade do ensino da escola pública, tinha coisas que eu sabia mais porque eu fiz cursinho, ou seja, porque eu paguei para ter uma educação complementar.
Achas que o jovem é ouvido, de maneira geral?
Quase ninguém quer escutar o que a gente fala. A gente organiza movimentos estudantis e o governador sai de onde ele está e vai para outro lugar, dane-se quem está ali esperando por ele para protestar, dane-se o que estão fazendo lá, não estão nem aí. Nós não temos muitos espaços para sermos ouvidos, mas isso não é só o adolescente. Muita gente pensa que o adolescente não sabe o que está dizendo, mas a gente está vivendo isso agora, vivendo isso na pele. Podíamos ao menos ser ouvidos.
Pretendes continuar trabalhando no ano que vem?
Sim, mesmo que eu entre na faculdade. Depois tem estágios e eu gostaria de estagiar na área do meu curso, mas até conseguir isso, eu pretendo seguir lá.
Projeto Caras da Educação retrata jovens estudantes porto-alegrenses
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