O Caras da Educação é um projeto da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho que retrata por meio de imagens e dá voz com uma série de pergunta para jovens estudantes do Ensino Médio da rede pública de ensino em Porto Alegre. A iniciativa, que tem a parceria da fotógrafa Nataly Motta, autora de todas as imagens exibidas, expõe a opinião, os gostos, a bagagem, os anseios, os desejos para o futuro e as críticas da geração que está a um passo da vida adulta.
Projeto Caras da Educação retrata jovens estudantes porto-alegrenses
Afinal, o que querem e sonham os jovens? Sentem-se ouvidos e respeitados nos colégios e fora deles? O que querem para o futuro? Para tentar responder a questões como essas, fomos para as escolas que frequentam, miramos a máquina fotográfica e ajustamos o foco da lente, dando liberdade para que se expressem sobre aquilo que sempre quiseram falar e nunca lhes foi perguntado ou escutado. Sem intermediários, sem um adulto orientando ou controlando o que eles deviam falar, sem vergonha. O resultado dessa microssérie começa hoje.
Nome completo
Gabriela Silva Bica
Idade
17 anos
Ano que estás cursando
3º ano do Ensino Médio
Onde tu estudas?
Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto, no bairro Floresta, onde começou o Ensino Médio. Antes, frequentou a Escola Estadual Ensino Fundamental Ministro Poty Medeiros.
Onde tu moras?
No Parque dos Maias.
Lá em um lugar legal?
Eu gosto bastante, apesar de tudo.
Apesar de tudo o quê?
É Zona Norte, mas eu gosto.
Mora com quem?
Com a minha mãe e a minha avó. Meus pais são separados.
Tens contato com o teu pai?
Sim! Convivo muito com ele e com toda a família dele.
Qual é a atividade da tua mãe?
Ela está aposentada, mas antes trabalhava como auxiliar administrativa.
Gosta de ir pra escola? O que te motiva?
Eu gosto dos professores, o ambiente escolar, não muito. É um colégio tradicional, com estrutura tradicional, com muitos professores em atividade há muito tempo.
O que menos gosta na escola?
O tradicionalismo eu não curto! É um colégio mais rígido, que tem uma opinião mais fechada das coisas que não me agrada. É uma coisa com ares de exclusivo, onde as coisas são pouco compartilhadas com os alunos. O colégio tem a opinião que é a opinião universal e elas são impostas. Isso me deixa chateadas porque são decisões e coisas bobas tomadas desse jeito.
Existe uma pesquisa, a Repensar o Ensino Médio, da ONG Todos pela Educação, que indicou que 76% dos jovens entre 15 e 19 anos gostariam de ser mais ouvidos pelas direções das escolas, e 75% gostariam de mais incentivo à liberdade de expressão.
É isso que eu estou dizendo! É assim que eu me sinto!
O que gosta de fazer quando está fora da escola?
Sair para passear. Tem uma praça em frente à minha casa, a Professor Jorge dos Santos Rosa, que eu adoro, também frequento a Praça México, o Parque Germânia, a Redenção, o Gasômetro. E sempre tomando Chimarrão! Também adoro ir a festas, estudar, ler, de cinema, de shopping. Eu não curto mesmo é ficar em casa, sempre adorei sair. E, claro, de conversar, eu sou muuuuito comunicativa (risos)!
Ficar nas redes sociais…
Sim, estou sempre antenada em tudo pelas redes sociais, sempre vendo vídeos, lendo jornal por ali e qualquer notícia. Estou lendo agora o livro Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu, para um trabalho, mas também por causa da lista de leituras obrigatórias do Vestibular da UFRGS de 2018.
Já leste o resto?
Quase, faltam alguns poemas que deixei para o fim por serem curtinhos. Já foram Os Sermões, do Padre Antônio Vieira, A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, O Continente, de Erico Verissimo, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, todos, todos os maiores. Faltam mesmo os de poemas curtinhos que eu deixei para o final.
Tem muitos amigos?
Muitos! Eu gosto muito e é bem natural fazer novas amizades. Sou bem conversadeira e quando bate a amizade, eu posso ter conhecido a pessoa há cinco minutos, parece uma amizade de anos (risos)!
E fora da escola, nos locais em que frequenta, acha que a opinião dos jovens é ouvida e respeitada?
Eu acho que muito pouco. As pessoas tem a mentalidade de que o jovem não é experiente, tratam o jovem diferente por isso. Eu concordo, o jovem não tem a mesma experiência de um adulto, só que o jovem tem opinião. Se o mundo me pede experiência, mas ninguém me dá a chance de tentar e vivenciar, como eu vou ganhar essa experiência? Aí acabam nos descartando como se a nossa opinião não fosse válida. Sabe, a nossa geração traz tanta coisa nova e diferente, a internet nos dá tanta coisa, a gente amadurece muito com tudo o que está acontecendo e a gente está consumindo pelas redes sociais e as pessoas não dão bola porque as pessoas não levam isso em consideração. A gente tem acesso a tanta coisa nova e às vezes queremos apenas que a nossa ideia seja ouvida. A gente acaba sendo posto um pouco de lado e é uma pena porque temos o poder de fazer muitas coisas. Eu acho que poderíamos ajudar muito se as nossas ideias fossem ouvidas.
Do que tu sentes falta na escola? O que tu não gosta na tua escola?
De um esquema de ensino diferente. Eu tenho professores que tem uma visão mais nova, então eles tentam transformar as aulas. Já outros, normalmente os mais experientes, têm aquela coisa cética do quadro negro, do copiar, de todos alunos sentados iguais. Gente, isso é muito cansativo! Podia ser uma dinâmica melhor, isso ia nos ajudar. E eu falo com propriedade porque já estou no terceiro ano, estou há anos nesse mesmo ciclo. São anos de estudo da mesma forma, tudo igual quase todos os dias, acaba se tornando uma rotina massante. Será que não daria para inovar mais? Ir mais ao laboratório? Para a biblioteca? Para o laboratório? Tem um laboratório de Química na escola onde eu estudo. Me pergunta quantas vezes a minha turma foi para uma aula lá? Nenhuma. E é muito melhor de aprender se eu enxergo as coisas acontecendo. Claro que a teoria é muito importante, mas a prática é vital. Custa muito inovar? Se os colégio não tivesse esta estrutura, eu até entenderia, mas fico chateada porque tem e isso não entra nas nossas aulas. A gente sabe que tem recursos, mas nem somos levados para lá. Estou em um colégio tradicional, com uma história e tradição, mas me parece que às vezes as coisas não são bem aproveitadas.
Qual disciplina gosta mais?
Eu gosto muito de História, Português, Filosofia e Sociologia.
Quer continuar estudando depois da escola?
Eu quero muito entrar na universidade porque quero estudar Direito para ser juíza. Precisarei de uma pós-graduação, passar na prova da OAB, tudo isso, claro. Mas minha família me apoia muito, põem uma esperança estrondosa em mim. Sempre fui uma aluna nota boa e focada. Minha mãe sempre diz que nunca teve preocupação comigo. Isso é uma coisa que ela tem muito orgulho de mim. Sempre fui independente.
O que tu sonha para o teu futuro?
Inovar, sair da mesmice, acho que os jovens tem potencial, mas estão cansados do mesmo estilo de tudo sempre.
E para o futuro da educação do Brasil? O que tu sonhas?
A educação tinha que ser mais valorizada, o país não investe. A gente tem potencial, só falta investimento e incentivo, falta também os professores não se deixarem abater pela falta de estrutura e de salário. A gente tem o poder de mudar, a gente tem potencial, mas deixa de lado. É preciso se engajar e correr atrás. A gente só precisa de um choque de realidade, um empurrão para perceber que é capaz. Falta o Estado e o país valorizarem os professores, as pessoas tem uma capacidade e potenciais imensos. Educação é fundamental, tu não é nada sem educação, tanto a que se traz de casa quanto a da escola.