Como ouvir o que os alunos estão realmente querendo dizer dentro da sala de aula? Como fazer chegar a mensagem correta para dezenas de estudantes? Como transformar a escola em um espaço de criatividade, cidadania e aprendizado colaborativo? Como eliminar os ruídos e conseguir se conectar em um ambiente marcado por tanta diversidade e conflitos?
Essas foram algumas das perguntas que o jornalista e especialista em Comunicação Integrada Luís Lopes Le Vay se propôs a responder na oficina Educomunicação – Ferramentas para comunicação em sala de aula, realizado nesta segunda-feira, dia 6 de novembro. O evento promovido pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho e realizado durante uma manhã na ESPM-Sul reuniu uma plateia de cerca de 70 pessoas, em sua maioria, formada por professoras.
Com cases exibidos em vídeo e dinâmicas em grupo, o especialista introduziu o conceito teórico-prático do termo educomunicação, que surgiu nos anos 1980, mas segue em constante evolução. Conceitualmente, educomunicação abrange um conjunto de ações que perpassam a educação para o consumo de mídia, uso das mídias na educação, produção de conteúdos educativos e gestão democrática das mídias. Porém, sua abordagem voltou-se para o conceito utilizado por Paulo Freire: “São sistemas comunicativos abertos e criativos que possibilitam a express]ao e troca de ideias entre diferentes membros da comunidade. Em linhas gerais, a educomunicação busca incentivar o diálogo, a colaboração e se baseia no entendimento de que todos podem ensinar e ser ensinados, dentro e fora da escola”.
– A ideia é resgatar no profissional a motivação da sua escolha, a paixão pelo ensino, o envolvimento com o aluno sendo o professor ou gestor, a ponte entre a educação de qualidade, a participação da família no processo de educação, a divulgação de iniciativas relevantes e a facilitação dos processos comunicacionais entre esses atores – disse Le Vay.
Ao aprofundar-se no termo, contudo, descobre-se que a educomunicação se propõe a ajudar no crescimento e na capacidade de expressão das pessoas, individual ou coletivamente, criando ambientes onde a socialização e o bem comum estão sempre presentes.
– A educomunicação tem várias vertentes, desde o jornal produzido em sala de aula até o envolvimento de uma comunidade em uma ação de mídia passando pela educação voltada para se entender a mídia. O que a gente tratou hoje aqui foi mais a questão humana da educomunicação, que é um tema que não é muito tratado e abordado e que é muito relevante. É a aproximação das pessoas, entender os seus problemas, é ser compreensivo, é conseguir administrar os ruídos na comunicação que acabam atrapalhando a transmissão correta da mensagem. Quando eu não entendo aquilo que tu estás tentando me dizer, eu subjugo aquilo que eu acho que eu entendi e acabo cometendo o erro. Então, comunicação no aspecto humano também é isso: quando a gente consegue ter um entendimento melhor e a gente consegue fazer uma ponte eliminando os ruídos dacomunicação e aí eu consigo te entender – explica.
Filho, neto e bisneto de professoras, Le Vay hoje se ocupa de exaltar a importância da educação. E por acreditar no poder transformador desses profissionais é que julga ser tão importante discutir a educomunicação com eles, porque são eles os mediadores capazes de incentivar mudanças, educando e também contribuindo para a formação de cidadãos críticos e atuantes.
– O professor é a base de tudo o que você vai estar lá no Ensino Fundamental. Nesta questão da terceirização da educação, ele ocupa o papel da família, ele acaba substituindo pai e mãe. Muitas vezes eu não tenho uma compreensão em casa, mas eu tenho uma compreensão na escola. E muitas vezes o professor é a única opção. Quando você não entende e eu acho que ninguém me entende, eu acho que o mundo inteiro não me compreende e eu sigo por outros caminhos que muitas vezes não são os melhores. O professor tem um papel fundamental em conjunto com a família. A gente não pode passar a responsabilidade para o professor, porque ele sozinho não consegue. É uma parceria pais e professores – defende.
Embora voltada para a escola e a sala de aula, a palestra de Le Vay também pode ser estendida para a casa, onde o papel educomunicador pode e deve ser executado pelos familiares. Questionado, então, se é um conceito que pode ser buscado e praticado pelos pais, ele responde sem hesitar:
– Com certeza! Os pais podem inclusive treinar no dia a dia. A gente teve um exemplo na plateia de uma professora que respondeu para o filho que ele não podia ser jogador de basquete quando ele crescesse porque isso não era profissão. A gente não sabe o que acontecerá. E se ele for um jogador de sucesso, ser feliz e ser motivo de orgulho para essa família? A gente não pode bloquear e nem estourar o balão dos sonhos. Nós vivemos em um mundo de muitos balões cheios, mas também de muitos alfinetes, onde as pessoas acabam cortando a imaginação, os sonhos e as perspectivas de muitas pessoas. E a educomunicação também é isso, pra facilitar a vida das pessoas – conclui.
Conversamos com alguns dois participantes ao fim do evento. Confira abaixo a opinião deles:
Interessante sempre refletir sobre a comunicação e a interdiscplinariedade dentro da escola porque há vezes em que elas simplesmente não existem dentro do ambiente escola, professora da rede pública Maira Beatriz Engers.
Eu já conhecia o conceito de educomunicação, pois eu já tinha feito um seminário sobre o tema e achei essa oportunidade de hoje muito proveitosa. Foi uma excelente oportunidade para refletir sobre como agimos no dia a dia da escola com os alunos, a direção e os pais. Achei ótimo, professora da rede pública Carmem Machado de Abreu.
Eu vim porque eu tenho muitos problemas de comunicação com os meus alunos e achei que isso seria muito válido. Meus alunos têm dificuldade de aceitar seguir regras e eu vim pensando como eu posso fazer os meus alunos entenderem que eles devem agir de outra maneira e não de uma forma impositiva, professora da rede pública Heloíse Magni.