FAZER E PROPAGAR O BEM

Pioneiro na modalidade de crowdfunding para projetos sociais, o Portal Social, da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, ajudou a concretizar centenas de projetos por meio do financiamento coletivo. Durante sete anos, a plataforma serviu de vitrine para ações selecionadas e pôs em sintonia instituições e doadores, encurtando a distância entre quem precisava de apoio e quem queria contribuir. Uma das entidades beneficiadas foi o Instituto da Criança com Diabetes , que captou recursos para distribuir aos pacientes insumos fundamentais para controlar a doença.

Giovanne Ferreira Guterres dos Santos tinha seis anos de idade quando os médicos lhe deram um diagnóstico que marcaria os anos seguintes da sua vida: diabetes, tipo 1. Doença autoimune, que destrói as células beta do pâncreas, produtoras de insulina: atinge 150 mil pessoas no Brasil, de 5 a 10% dos portadores de diabetes. A Sociedade Brasileira de Diabetes estima que 72 mil pessoas morram de diabetes no Brasil todo ano.

Com dificuldades em obter atendimento pelo SUS, a sua mãe, Janaína Ferreira de Oliveira, chegou ao Instituto da Criança com Diabetes (ICD) em uma manhã de inverno, no ano de 2007. Janaína, então, tinha 34 anos. Teria 36 e o filho, oito, quando o Instituto recorreu à primeira plataforma de crowdfunding social do Brasil para obter ajuda para crianças como Giovanne.

Essa plataforma era o Portal Social, da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. O ICD buscou, através do portal, dinheiro para conseguir comprar e distribuir aos pacientes insumos necessários para o controle contínuo do nível de glicose no sangue. Naquele ano de 2009, o ICD foi selecionado entre as instituições que receberiam essa verba.

 

“A gente chega tão destruída e sem informação que acha que vai acabar enterrando o filho. Mas já no início percebemos o Instituto (da Criança com Diabetes) como um aliado que nos recebe com tudo, principalmente, a insulina, que é a vida de um portador de diabetes”, afirma Janaína.

Foram arrecadados R$ 20 mil, que na época foram convertidos em 11,6 mil tiras reagentes, 3,5 mil seringas, 120 sachês de glicose instantânea e 169 canetas para a aplicação de insulina. Além de Giovanne, outros 359 pacientes foram beneficiados com essa aquisição de materiais. Se buscasse pelos seus próprios meios a verba necessária para o tratamento, a mãe de Giovanne, Janaína, gastaria em torno de R$ 1,5 mil mensais. Para o tratamento diário, ele precisa de agulhas, tiras reagentes, glicosímetro, medidor de glicose, e duas canetas aplicadoras de insulina, uma para controle geral, e a outra para reparação, devendo ser aplicada sempre quando for preciso baixar rapidamente a taxa de açúcar no sangue.

No Brasil, a lei federal de n° 11.347/2006 assegura aos portadores de diabetes que se cadastrem em postos de saúde para o recebimento gratuito dos insumos e dos medicamentos receitados. Na prática, nem sempre funciona. Giovanne é um entre tantos brasileiros que com frequência não recebem aquilo que lhes é assegurado por lei. Por isso, é na instituição erguida no bairro Cristo Redentor e em funcionamento desde 2004 que ele buscou grande parte dos produtos e materiais administrados há dez anos.

“Mesmo sendo um papel do governo, muitos pacientes com diagnóstico recente de diabetes ou que enfrentam essa escassez na rede pública de saúde e não tem condições financeiras recorrem a nós, porque a diabetes é uma doença cara. O Portal Social foi uma ferramenta de captação de recursos muito importante, uma vez que o desenvolvimento dos projetos sociais do ICD depende de verbas ou recursos captados junto à sociedade”, explica a gerente-executiva do Instituto, Maria Tereza Brenner Lima.

A verba adquirida através do Portal Social possibilitou a prevenção da descompensação do diabetes, diminuindo o número de internações hospitalares e, ao mesmo tempo, evitando o estresse causado pelo risco iminente de complicações decorrentes da doença.

A entidade mantida com recursos privados foi uma das 723 instituições beneficiadas em sete anos de funcionamento do site de financiamento coletivo criado para mobilizar pessoas e empresas a apoiar financeiramente projetos de instituições do terceiro setor. Entre 2005 e 2012, o Portal Social impactou mais de 145 mil pessoas em projetos desde responsabilidade social, direitos humanos, desenvolvimento comunitário até ambiental.

Desde que descobriu a doença, o adolescente frequenta o ICD, no mínimo, a cada três meses. É lá que são realizados exames de rotina e consultas médicas especializadas – incluindo atendimento psiquiátrico e psicológico – a fim de evitar surgimento de problemas de saúde mais comuns aos diabéticos, como insuficiência renal, problemas oculares, de saúde bucal e neuropatia, entre outros.

 

“O Instituto da Criança com Diabetes representa a minha salvação e todos que o ajudam também são responsáveis por isso”, desabafa Giovanne.

 

A luta de Giovanne e os esforços da mãe, que deixou a ocupação de secretária quando descobriu a doença do filho e hoje trabalha como doceira em casa, deram certo.

“A gente chega aqui tão destruída e sem informação que acha que vai acabar enterrando o filho logo. Mas já no início percebemos o Instituto (da Criança com Diabetes) como um aliado que nos recebe com tudo, principalmente, a insulina, que é a vida de um portador de diabetes”, afirma Janaína.

Dez anos depois daquela manhã de inverno de 2007, a doença de Giovanne está controlada. Aos 16 anos, o adolescente leva uma vida saudável com dieta balanceada – que inclui, eventualmente, até as balas de coco preparadas pela mãe. O estudante do primeiro ano do Ensino Médio enfrenta com leveza as limitações diárias que o diabetes lhe causa. Ao refletir sobre a vida em retrospectiva, confirma o acerto da mãe:

“O Instituto da Criança com Diabetes representa a minha salvação e todos que o ajudam também são responsáveis por isso”, conclui.

 

Reportagem e edição online: Ana Carolina Bolsson
Edição de textos: Luís Felipe dos Santos
Fotos: Letícia Zluhan
Vídeo: Johnny Marco Filmes