Pela primeira vez na história, o 5º Prêmio RBS de Educação reconhece projetos que possibilitam a inclusão no ambiente educacional – de pessoas com deficiência ou de grupos hipossuficientes, de acordo com o estabelecido no item 4 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que observam inclusão também sob os aspectos de uma educação “equitativa e de qualidade”.
Em escolas públicas e privadas, os três projetos selecionados por um júri especializado mostram como é possível obter sucesso na inclusão através de ações concretas, que trazem para todos o conhecimento e o combate ao preconceito.
Conheça os três projetos do Prêmio RBS de Educação finalistas na categoria inclusão:
A cor do paraíso
Autora: Raquel Daniele Gonzalez de Oliveira da Silva
Cidade: Porto Alegre
Escola: EMEF Neusa Goulart Brizola
Raquel Daniele da Silva estudou em uma escola que tinha alunos com deficiência visual e baixa visão. Com amigos deles, conheceu o seu atual marido, que tem deficiência visual. As dificuldades apresentadas por essas pessoas e os desafios do ensino estimularam Raquel a se tornar professora, e levar os preceitos da educação inclusiva para o seu dia a dia.
– Eu me sinto responsável, e gosto de ver esses projetos ganhando forma através do interesse dos alunos. Esse projeto começou com a apresentação de um filme iraniano, chamado “A Cor do Paraíso“, sobre um menino com deficiência visual que não é aceito pelo pai. Depois disso, os alunos leram a coleção “Era Uma Vez Um Conto de Fadas Inclusivo“, fizeram resumos e debateram a história. E, no Dia da Família, meu marido, que também é instrutor de Braille, visitou a escola para falar com os alunos e pais sobre inclusão – afirma Raquel.
O interesse dos estudantes sobre a temática fez com que os estudos sobre práticas de inclusão alcançassem um outro patamar. Hoje, os alunos da Neusa Goulart Brizola estão aprendendo a escrever e ler em Braille, com regletes e punções emprestadas pela Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs).
– Estou observando que esse projeto está estimulando os alunos a ler em voz alta, além da leitura silenciosa, e ler sem vergonha. Eles estão perdendo o medo de se expor, e observam que todas as pessoas merecem respeito.
A saga dos refugiados
Autora: Sabrina Araújo Pacheco
Cidade: Porto Alegre
Escola: Colégio Farroupilha
Como conscientizar alunos brasileiros para o problema dos refugiados pelo mundo? O projeto da professora Sabrina Pacheco, do 9º ano no Colégio Farroupilha, começou com a leitura de dois livros: “A Outra Face – História de Uma Garota Afegã” e “A Pequena Guerreira“. Os livros provocara um intenso debate sobre a vida das pessoas que tiveram que sair de seus países de origem para sobreviver, escapando de situações de guerra ou pobreza extrema.
O impacto dessa discussão foi tão forte que transcendeu o trabalho de literatura: surgiu como tema de debate em outra atividade, o Dia-A-Dia da Leitura, e também na produção de vídeos dos alunos do 9º ano para estudantes do 7º ano, divulgando as histórias dos livros trabalhados. Além disso, a discussão sobre a vida dos refugiados proporcionou um trabalho interdisciplinar, com a disciplina de Artes Visuais, no qual os estudantes pintaram tapumes de madeira no pátio da escola com imagens relacionadas ao tema.
As pinturas provocaram intensa discussão nas redes sociais, uma vez que pais de alunos manifestaram incômodo com as imagens “tristes” e “chocantes” pintadas pelos estudantes. Na ocasião, o colunista de ZH Túlio Milman se manifestou: “Os tapumes (…) estão ajudando a construir algo bem mais importante que um prédio: solidariedade e consciência humana”.
– Essas ações foram fundamentais para que os alunos aprendessem a situação de pessoas que buscam refúfio em outros países. Além disso, motivaram os adolescentes a não só divulgar o problema, mas também minimizar o sofrimento dessas pessoas que ainda vivem a margem da sociedade – afirma a professora.
As diferenças: a informação mudando o conceito
Autora: Juliana Maria Bertotti Pedron
Cidade: Caxias do Sul
Escola: EMEF Senador Teotônio Vilela
E quando o preconceito dificulta a aprendizagem de estudantes com deficiência? A professora Juliana Pedron, da EMEF Teotônio Vilela, em Caxias do Sul, constatou que uma aluna do 5º ano, com deficiência cognitiva, não se sentia pertencente à sala de aula.
– Durante a hora do recreio, ela ficava apenas com os professores, não se sentia bem perto dos demais colegas. Isso me deixou muito angustiada, porque eu acho que a criança tem que sentir pertencente onde ela está. Então, eu procurei ir à biblioteca e pesquisar alguns livros. Ali encontrei a “Ciranda das Diferenças”, que retrata, usando animais, representações das deficiências motora, auditiva, visual e síndrome de Down – afirma a professora.
Foram criados cinco grupos, em sala de aula, nos quais passaram a trabalhar com livros. Ali apareceram algumas dúvidas sobre deficiências – que não foram sanadas com pesquisas no Laboratório de Informática. Dessa forma, a professora buscou uma colega do Atendimento Educacional Especial, que trabalhou com eles o aprendizado sobre pessoas com deficiência.
Depois desses trabalhos, foram construídos bonecos representando pessoas com as variadas deficiências – e esses bonecos se tornaram parte do dia-a-dia dos alunos, inclusive sendo hoje reconhecidos como “colegas” de aula, com nomes próprios: Miguel, Larissa, Sofia, Wesley e Natália.
– Eles passam o dia conosco. Vão para a biblioteca, para o lanche, para as aulas especializadas e o recreio, e acompanham um colega. Junto com ele vai um diário, onde é relatado o dia dele, além de ter toda a parte científica, as fotos que eles registram, do dia passado com ele. Passou a fazer parte da sala de aula como um colega – declara a professora.
O colega também é personagem principal de uma peça de teatro, que será apresentada para toda a escola, na qual eles contam como é a sua deficiência e qual a sua rotina – para que as crianças compreendam e respeitem as diferenças. O projeto está em continuidade, e ao final, o diário será doado para a escola.
– O meu objetivo, que motivou o projeto (combater o preconceito) foi alcançado. A aluna que sofria preconceito está acolhida e amparada pela turma, que colabora e ajuda ela. Esse é o objetivo de todo professor: fazer com que o aluno seja amado e respeitado dentro de sala de aula.