O ônibus Bonsucesso, em horários tranquilos, leva cerca de uma hora para chegar ao Centro de Porto Alegre. Em uma das primeiras paradas, na rua Gervásio Ferreira, na Lomba do Pinheiro, fica a Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire. Nesta escola, conhecida por associar o ensino à pesquisa, alunos de 10 a 14 anos desenvolveram três projetos destacados no Salão UFRGS Jovem de 2017 – os projetos Mapa Ambiental, Expressões Idiomáticas e Desconstruindo Estereótipos.
A turma B25 da escola Saint Hilaire desenvolveu o projeto de pesquisa Desconstruindo Estereótipos a partir de uma inquietação. Ao ler uma reportagem que mostrava a ausência de times femininos profissionais no futebol, as crianças e pré-adolescentes, entre 10 e 14 anos, ficaram revoltados com a discriminação. Como assim, menina não pode jogar futebol?
Larissa Silveira – 11 anos
Essa inquietação se transformou em leitura e trabalho. Não era só o estereótipo de gênero a ser desconstruído, mas vários outros: preconceito racial, preconceito contra pessoas tatuadas, desrespeitos dos mais diversos níveis.
Vivian Teixeira – 11 anos
A turma se engajou no trabalho. Os passos eram debatidos em assembleias, com a participação dos professores – as turmas da manhã e da tarde debatiam, juntas, os passos a serem adotados. Para divulgar o trabalho, os alunos gravaram um curta-metragem chamado Me Aceita Como Eu Sou – que concorreu ao prêmio de melhor produção, no III Festival Primeiro Filme. Pela menção, a turma ganhou um tablet.
Matheus Gonçalves – 11 anos
Sem dinheiro para comprar livros para pesquisa e materiais para apresentação, os alunos resolveram tomar uma iniciativa: montaram um bazar na escola, no qual venderam coisas que não usavam nas suas casas. Com a verba arrecadada com as vendas, compraram livros, uma pasta para trabalhar, papéis e pagaram a impressão de cartazes, que foram apresentados no Salão UFRGS Jovem, no mês de outubro. Levaram consigo camisetas dos projetos, com logo feito por um dos estudantes da turma – Vítor, 11 anos. Ele usava, também, a camiseta do projeto “Expressões Idiomáticas”.
Vítor Simões – 11 anos
“A questão das expressões idiomáticas surgiu por uma demanda deles, que tiveram dificuldade de interpretar alguns livros com gírias. Perguntavam coisas como ‘professora, o que é uma prova de fogo?’. E então, começamos a estudar. Eles são muito criativos. Fizeram cartazes, depois camisetas, depois jogos, e usaram muito as mídias. As mídias, nessa turma, são ferramentas essenciais. Todos estavam com o celular. Eles aprenderam a usar o celular para além do divertimento e da interação”, afirma a professora, Maria Gabriela Souza. “Fizemos o projeto, o cronograma, tudo para a mostra científica da escola. Tudo isso surgiu das ideias deles. Foi muito emocionante”.
A escola Saint-Hilaire estava em greve até esta segunda-feira, devido ao parcelamento de salários de professores. Em uma chuvosa manhã de sexta-feira, poucos estudantes frequentavam as salas de aula – e alguns cachorros aguardavam cuidados na entrada da escola. No mercado próximo à parada de ônibus, duas pessoas comentavam a morte trágica de um homem, assassinado dias antes. O diretor, Ângelo Barbosa, lembra que não foram apenas esses os projetos destacados dos jovens cientistas – um outro trabalho, Descobrindo os Microorganismos, recebeu destaque na Mostra Científica Mulheres na Ciência, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.
Maria Gabriela Souza – professora da turma B25
E o que esses jovens protagonistas querem para as suas vidas?
Gabriele, 11 anos. “Quando sair da escola, eu quero ser veterinária ou escritora. Quero levar isso aqui para meus filhos, amigos, primos. Quero um país melhor, com menos violência, menos crime, mais paz e menos preconceito”.
Maria Eduarda, 11 anos. “Quero fazer faculdade, ser médica, e ter filhos”
Luana, 11 anos. “Quero fazer faculdade, um curso de desenhos, e ser desenhista”
Eduarda, 11 anos: “Quero ser médica quando eu crescer. Quero levar para toda a minha vida o que a gente aprendeu em sala de aula, o que é estereótipo, e que não é legal fazer estereótipo com os outros”
Tayana, 11 anos: “Quero ser advogada, quando tiver meus filhos quero falar para eles que ter preconceito é errado”.
Luiza, 10 anos: “Quero ensinar para os nossos filhos, e para os filhos deles, que preconceito não se pratica com ninguém”.
Vivian, 11 anos: “Quando eu crescer, eu quero ter um futuro bom. O que eu estou aprendendo, com a minha professora, é essencial para criar os meus filhos, porque vai ser uma nova geração, e eu quero que eles cresçam sem praticar o preconceito”.
Vítor, 11 anos: “Eu quero uma vida feliz. Quero estudar bastante, mesmo que não goste taaaanto assim de vir para o colégio. E vou trabalhar de alguma coisa. E sei que quero ir para o Exército, porque acho legal, o que eles fazem lá. E se não der certo no Exército, quero morar no Canadá”.
Douglas, 11 anos: “Quero ser jogador de futebol, jogar na zaga. E se não der certo, quero ser mecânico. Meu pai e meu avô foram mecânicos, eles arrumavam os carros e viajavam. Aí, se não der certo o futebol, é isso que eu quero ser. Quero uma vida feliz, ter meus filhos, cuidar deles, e ter uma nova família”
Ivandro, 11 anos. “Quero ser jogador profissional. Mas antes, quero ser da Marinha. Gosto muito de água. Quero ser feliz, não ter preconceito, ter respeito com outras pessoas”