Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a 23,91% da população brasileira.Quando essa deficiência é física ou motora, a maior parte das cidades e estabelecimentos não têm recursos ou, até, conhecimento para oferecer alternativas que diminuam as dificuldades das pessoas com deficiência.
A partir dessa reflexão, a professora Vanderlize San Martins de Lima, da Escola Municipal de Ensino Fundamental La Salle de Sapiranga, no Rio Grande do Sul quis despertar nos alunos a consciência sobre a acessibilidade dos espaços onde vivemos. Vandelize propos uma atividade em grupo para ser apresentada na para a feira de ciências (FEMINT) do colégio, e foi em um destes grupos que surgiu a ideia que iria virar mais que um projeto de ciências, e sim um produto para ajudar cadeirantes. O grupo ao andar pelas ruas da cidade, viu o trabalho do município para promover a conscientização dos moradores de Sapiranga com placas espalhadas em vagas de deficientes nos estacionamentos com os dizeres: “Olhe pra mim! Trocaria de lugar comigo?”. A partir dessa campanha, os alunos decidiram aceitar a provocação e se colocar no lugar do cadeirante, conseguiram uma cadeira de rodas e passaram alguns dias vivenciando as dificuldades das pessoas com deficiência para se locomover em locais onde não existem rampas de acesso.
Começaram pelo centro da cidade, onde perceberam as calçadas esburacadas e raízes de árvores impedindo o deslocamento. Observaram também que em algumas vias, de um lado da calçada, tinha rampa de acesso e no outro não, e, além disto, que muitos comércios não tinham rampa pra eles entrarem, impossibilitando assim, o direito básico de todos os seres humanos, o de ir e vir.
Após essa experiência, tiveram a ideia de tentar criar uma rampa portátil móvel, que pudesse ser levada pelos próprios cadeirantes e que facilitam seu acesso a lugares que não estavam adaptados para cadeiras de rodas. O primeiro protótipo foi desenvolvido com chapa de aço e sem anti derrapante, mas o modelo não era muito prático por ser pesado demais, mas com o segundo protótipo e as melhorias sugeridas por cadeirantes que testaram o produto, os alunos produziram um modelo antiderrapante e de alumínio que era bem mais leve e facilitava o uso da rampa.
Na semana do deficiente físico em 2016, após o início do projeto, foram até a praça central com uma cadeira de rodas e realizaram um desafio baseado em um experimento social: “você trocaria de lugar comigo?” No qual desafiavam as pessoa a fazer um pequeno trajeto com a cadeira.
– Minha maior gratificação enquanto professora é que eu pude me desafiar. Esse projeto acabou se tornando uma luta pessoal pela inclusão e me despertou uma motivação ainda maior pra poder ensinar. Foi um divisor de águas na minha carreira, na minha profissão. E eu me sinto feliz porque uma ideia que nasceu na sala de aula de forma despretensiosa tomou proporções muito maiores, conta Vanderlize.
Modelos de rampa portátil já existiam no mercado, mas todas com um preço inacessível, muito caro. Então, além de um experimento para a feira de ciências viram a oportunidade de tornar esta invenção um produto para ser distribuído e comercializado. O objetivo de expandir esta invenção para além dos muros da escola foi permitir que mais pessoas tivessem acesso a este recurso, principalmente os que têm menor possibilidade financeira. Então a professora foi atrás da empresa Romana Ferro e aço de São Paulo, apresentou a proposta da rampa portátil móvel pra eles e conseguiu que a ideia fosse levada adiante.
– Atualmente, uma empresa está produzindo nossa rampa que na semana que vem vai estar à venda no mercado. Fomos incluídos como criadores do projeto inicial e ganharemos comissão sobre as vendas, conta Vanderlize.
Eduarda dos Reis, uma das alunas participantes do projeto, também fala sobre a experiência desenvolvida em sala de aula:
– foi incrível porque eu comecei a olhar com outros olhos para as pessoas com deficiência, quando a gente conversou com as pessoas na atividade da praça, elas também não faziam ideia de como era difícil se locomover na cidade, conta a aluna.
Após a finalização do período escolar, a luta pela acessibilidade ainda continuou, muitas lojas que viram essa movimentação dos alunos começaram a modificar seu espaço físico, a calçada e fachada da loja e algumas fizeram inclusive rampas de concretos para permitir o livre acesso aos cadeirantes.
– O mais importante foi termos tido a oportunidade de nos colocarmos no lugar do outro, vivenciando de verdade essas realidades, complementa a professora.