Por: Fernando Luís Dotti, diretor da Faculdade de Informática da PUCRS

Normalmente o impacto da computação na sociedade atual é entendido por um viés tecnológico, diretamente ligado ao uso abundante de poderosos dispositivos de processamento e comunicação. Isso é de fato formidável, mas temos questões mais profundas a observar para entender que este impacto pode ser ainda maior.

A matemática, já há séculos, impulsiona diversas áreas do conhecimento por ser a língua usada por estudiosos para raciocinar sobre e descrever a natureza (ex.: lei da gravitação universal) e construções que o ser humano deseja fazer (ex.: pontes, máquinas).

Analogamente, o desenvolvimento de conceitos fundamentais da computação nas primeiras décadas do século XX trouxe uma nova linguagem que permite ao ser humano descrever um conjunto até então não formulado de fenômenos e construções de interesse.

Modelos computacionais são hoje utilizados para descrever diversos fenômenos da natureza como: processos biológicos, físicos, químicos, epidemiológicos; ajudam-nos a compreender sistemas complexos como funcionamento de sociedades, tráfego urbano e a economia; criam possibilidades novas de interação interpessoal, entretenimento, interação com tudo que nos cerca (como a internet das coisas); possibilidades de delegar controle como carros autônomos e voos assistidos, entre outros.

Tendo feitas estas colocações, depreendem-se algumas observações:

• assim como conceitos da matemática foram, ao longo de muitos anos, crescentemente integrados aos currículos dos ensinos fundamental e médio, também o conhecimento de modelos fundamentais de computação naturalmente e inevitavelmente serão trabalhados em nível escolar. Este chamamento foi feito recentemente inclusive pelo presidente norte-americano Barack Obama;

• comum a todos os profissionais da computação estará a capacidade de abstração, raciocínio, resolução de problemas – área que pesquisadores modernos tem chamado de pensamento computacional;

• o profissional da computação terá atuações cada vez mais variadas colaborando com diversos outros tipos de profissionais na busca por inovações em diferentes áreas;

• o domínio da língua da computação pelas novas gerações de estudantes elevará a capacidade da nossa sociedade de reinserir-se no momento histórico mundial e definir seu futuro.

O projeto Go Code, desenvolvido pela FMSS e que tem a PUCRS como parceira, experimenta o ensino de computação a estudantes selecionados de Ensino Médio de escolas públicas de Porto Alegre. Assim, neste momento histórico, este projeto ajuda a preencher uma lacuna de formação no ensino médio e potencializa o futuro dos jovens participantes, seja qual for sua escolha profissional. Entre os estudantes, a descrição da experiência usa palavras como: transformador, divertido, divisor de águas. Para os envolvidos: gratificante, promissor, quero mais.