“Esse projeto busca a igualdade de gênero com a promoção de políticas públicas contra a violência doméstica. Infelizmente, na nossa realidade atual, 70% das mulheres já sofreram algum tipo de violência doméstica. Obrigada às duas comissões, não é fácil fazer um trabalho e ser escolhido em duas categorias”, foi assim que Gisele dos Santos Rodrigues abriu seu discurso logo após ter seu projeto anunciado vencedor em Escola Privada no 5º Prêmio RBS de Educação. A professora que leciona na Unidade de Ensino São Mateus, em Cachoeirinha, também foi selecionada pela comissão avaliadora para concorrer na categoria Destaque Gênero.
Intitulado Mulheres oprimidas, protagonistas das nossas histórias, o projeto tem como objetivo promover a reflexão sobre políticas de igualdade de gênero a partir do incentivo a leituras que apresentam a mulher oprimida como protagonista. O projeto de Gisele, que estreou em 2017, começou com uma imersão na temática por meio da leitura de duas biografias, Eu Sou Malala, de Malala Yousafzai, e Sobrevivi.. posso contar, Maria da Penha. Na sequência, foram discutidos e esclarecidos em sala de aula o significado de termos como empoderamento feminino, sororidade, objetificação, entre outros.
Depois, a professora reuniu junto ao alunos 50 obras que tratam a mulher de forma oprimida e dividiu os títulos entre os estudantes, de acordo com o interesse de casa um, de forma que cada lesse um diferente. As obras – entre elas, Olga Benário, Ana Terra, a Hora da Estrela, Tieta do Agreste – foram divididas entre biografias, ficção, literatura brasileira e literatura estrangeira. A leitura foi feita em sala de aula, com mediação da professora. A partir disso, eles desenvolveram textos e outras formas de produção, como quadrinhos e pequenas histórias, além de um debate que inclui ainda notícias veiculadas na mídia sobre a violência contra a mulher e a desigualdade de gênero.
Inicialmente, a turma trabalhada era formada apenas por meninas, estudantes do Ensino Médio. Depois, diante da necessidade da temática, ela expandiu a temática a todas as turmas em que atua. Ao todo, 32 alunos participaram das atividades.
“Eu fiquei muito surpresa porque um aluno foi ajudando o outro na sua pesquisa dos livros e com isso o resultado foi surpreendente. Durante o debate, muitos deles se emocionaram, colocaram-se no lugar daquela ou daquelas protagonistas e puderem sentir o que elas passaram”, relembra a professora de 34 anos formada em Letras e mestre em Linguística Aplicada.
Ao longo de 74 dias, o projeto recebeu 33,391 mil votos abertos a júri popular pela internet. Para 2018, a professora que já foi convidada para palestrar em quatro escolas, planeja criar um Grupo de Trabalho sobre o tema e chamar mulheres e meninas ligadas a movimentos sociais e ONG sobre a temática para participar do projeto que nasceu em 2017.
“Eu sou muito grata, aos alunos e aos colegas que votaram. Mobilizei muitas pessoas para chegar até aqui. Agradeço pelo apoio das instituições, que acreditaram no projeto, na família e nos alunos. Com o projeto, os alunos se tornaram mais críticos, mas, o mais importante, tornaram-se sujeitos protagonistas na luta pela igualdade de gênero a partir da leitura e da produção textual”, encerra.
A iniciativa de Gisele foi finalista ao lado de outras duas, uma de Viamão, da professora Ana Claudia Petry, e outra de Gravataí, de Joici dos Santos Pereira (foto abaixo).