ENTENDER PARA TRANSFORMAR O MUNDO
ENTENDER PARA TRANSFORMAR O MUNDO
Fórum Educação Que Dá Certo, evento realizado em parceria com a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS) mantém a Educação na pauta das discussões urgentes para a construção de um país menos desigual. Um dos exemplos apresentados na mais recente e terceira edição, em 2016, foi o da Escola Convexo, modelo de ensino colaborativo surgido em Porto Alegre que foge dos métodos tradicionais de aulas e foca na transformação social de jovens carentes.
Bruno Bittencourt queria mais do que levantar cartazes nas ruas durante as manifestações de 2013. Determinado a transformar a indignação em algo concreto, o administrador se uniu à contadora Onília Araújo para juntos começarem a transformar a realidade por meio da Educação de crianças e adolescentes. Se as profissões sem ligação com a área representavam uma barreira, o desejo de ajudar jovens a se desenvolverem mais os unia. Meses depois da eclosão dos protestos nacionais, eles criaram a Escola Convexo, modelo alternativo de ensino para jovens de comunidades carentes e foco na transformação social.
Três anos depois, em julho de 2016, o projeto idealizado para fazer diferença foi um entre as dezenas apresentadas na terceira edição do Fórum Educação Que Dá Certo, iniciativa da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS) e do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP). Nascido a partir da urgência em elevar a Educação à pauta principal para a construção do futuro, o Fórum Educação Que Dá Certo promoveu debates sobre os aspectos que permeiam um ensino de qualidade e plural.
“Os anos passaram e tudo no mundo mudou, menos a escola, que segue com o mesmo formato e currículo. Não é um modelo que contempla a maior parte, por quê?”, reflete o educador de Matemática da Convexo, João Marcos Marques Machado.
A partir da exposição de boas práticas selecionadas em todo o país, uma delas a da Convexo, em três edições, de 2014 a 2016, o seminário reuniu cerca de 5 mil pessoas, ao todo, de diferentes áreas para discutir modelos vigentes e possíveis em temas como as necessidades e o comportamento do aluno, conteúdo curricular, gestão escolar, papel do professor, participação dos pais, novas práticas pedagógicas e uso de tecnologia. O Fórum Educação que Dá Certo evidencia o comprometimento do Grupo RBS com o tema e a urgência na mobilização para criação de novos conceitos e novas atitudes com relação ao conhecimento.
“Os anos passaram e tudo no mundo mudou, menos a escola, que segue com o mesmo formato e currículo. Não é um modelo que contempla a maior parte, por quê? Acreditamos que não há uma resposta, mas diferentes olhares e perspectivas”, reflete o educador de Matemática da Convexo, João Marcos Marques Machado, que participou do evento promovido pela FMSS ao lado de Bittencourt, ambos de 27 anos, e do aluno Rafael Beck de Oliveira, 14 anos.
O trio apresentou a metodologia e os seus resultados no painel sobre aplicações pedagógicas atualizadas. Na plateia, dezenas de entusiastas da Educação, entre eles, professores, gestores, lideranças, estudantes e pais que queriam conhecer o combustível e o motor que fazem a Escola Convexo rodar.
“Iniciativas como o Fórum mostram que é possível inovar e acreditar no surgimento de uma nova Educação. Ao mesmo tempo que existe uma necessidade grande de transformação, nossa sociedade tem um medo enorme de mudar”, diz Bitencourt.
Na contramão desse sentimento, ele e Onília criaram um projeto em que a transformação é justamente o objetivo principal, e o laboratório, a escola pública. Cientes dos problemas e das dificuldades enfrentadas nas comunidades em situação de vulnerabilidade social, eles ajudam crianças e jovens a ampliar o próprio leque de possibilidades, rompendo com o ciclo de perspectivas enxutas. Na prática, reúnem semanalmente estudantes de 7 a 17 anos para discutir problemas reais das comunidades em que estão inseridos e a buscar, juntos, sem distinção de séries ou idades, soluções práticas.
“Por meio da lógica e da comunicação, eles trabalham o pensamento crítico e se tornam poderosos em resolver problemas onde estão inseridos. A solução está com eles, de transformar a partir deles”, diz Machado.
A experiência de empreendedorismo social e real ajuda a desenvolver capacidades e motiva a aprendizagem, uma vez que os conteúdos ensinados na escola convencional não ficam isolados, ao contrário, são aplicados em exemplos práticos pelos educadores com formação em Matemática, Português e Psicologia. O saldo, além de um banco de boas ideias, é a formação de jovens líderes treinados para atuarem na comunidade onde vivem. Em 2017, a Convexo, sustentada financeiramente a partir de cursos para escolas e treinamentos corporativos, está presente em quatro escolas públicas, três de Porto Alegre e uma de São Leopoldo.
“Por meio da lógica e da comunicação, eles trabalham o pensamento crítico e se tornam poderosos em resolver problemas onde estão inseridos. A solução está com eles, de transformar a partir deles”, explica Machado (na foto à dir, na sala do Vila Flores, onde fica um dos LABs da Convexo).
Exemplo do aprendizado plural e não limitado aos bancos escolares, um dos resultados expostos foi o trabalho realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nehyta Ramos, localizada na Comunidade Chapéu do Sol, zona sul de Porto Alegre. Identificando a falta de geração de renda para mães como um dos principais problemas da região, os alunos propuseram um negócio: o Azeite Aromas, em parceria com o restaurante Mantra. As mulheres, que agora integram uma cooperativa, são as responsáveis pela parte técnica de aromatizar o azeite. Vedado e devidamente rotulado com o logo do projeto, os produtos são vendidos em restaurantes da Capital.
Partindo do micro para atingir o marco, a Convexo mira não apenas em melhores índices de educação, mas de renda per capita, de empregabilidade, gerando um movimento espiral que já impactou mais de 400 pessoas diretamente, dizem os fundadores.
Impacto esse que engajou quem esteve presente no painel da edição mais recente do Fórum Educação Que Dá Certo. Além de apresentar a concretização de um sonho, a apresentação atraiu espectadores aos LABs (laboratórios) da Convexo, como são chamados os espaços usados dentro das escolas públicas e no Vila Flores, onde são um dos projetos residentes.
“Acreditamos que projetos como o da Convexo são importantes para potencializar microrrevoluções e assim levar a uma transformação social. Por isso iniciativas como a do Fórum Educação Que Dá Certo são tão fundamentais, pois catalizam ações e mantém a educação em debate contínuo”, defende Machado.
“Iniciativas como o Fórum Educação Que Dá Certo mostram que é possível inovar e acreditar na educação, pois ao mesmo tempo que existe uma necessidade grande de transformação, nossa sociedade tem um medo enorme de mudar”, diz idealizador da Convexo
Se o objetivo da Convexo é estimular em crianças e jovens o desenvolvimento de uma herança colaborativa, sua existência por si só é o melhor exemplo disso, bem como o Fórum Educação Que Dá Certo, que ajudou a construir um legado de exemplos e reflexões sobre a educação para o país.
Reportagem e edição: Ana Carolina Bolsson
Fotos: Letícia Zluhan
Vídeo: Johnny Marco Filmes