O incentivo de práticas mais sustentáveis ultrapassou o caráter de hobby para uma professora de Roca Sales, no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, e se tornou em uma prática que modificou o dia-a-dia de pais e alunos, mobilizando a comunidade escolar. Ana Maria Sandri Ribas do Amaral, professora de Biologia da Escola Estadual de Educação Básica Padre Fernando criou o projeto “Aprender Reutilizando”, atualmente uma das ações que figuram no Mapa de Boas Práticas na Educação, levantamento da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho que valoriza e dá visibilidade a iniciativas gaúchas de impacto social em educação formal ou não-formal.
O projeto saiu do papel em 2014 com a construção de uma horta em uma área ociosa da escola. A terra inicial para o plantio foi doada pela Prefeitura Municipal, que apoio a ação desde o princípio. A primeira turma a participar da iniciativa era do 1º ano do Ensino Médio e tinha 32 alunos. O engajamento foi tamanho que em menos de um mês conquistou mais alunos e chegou a todas as salas de aula do Ensino Médio.
– Gosto de fazer com que eles entendam a necessidade de reutilizar e de fazer novas coisas com os mais diversos tipos de materiais, procurei trabalhar com eles, passando a ideia de que a gente pode não só comprar e botar fora, mas fazer algo diferente a partir disso. Tenho tido uma grande receptividade por parte deles – explica Ana Maria.
O projeto motivou a participação dos alunos, que começaram a trazer espontaneamente novas ideias e sugestões de melhorias. Algumas deles foram a introdução de pneus como canteiros alternativos de temperos, montagem de composteiras para um melhor aproveitamento das folhas de árvores existentes no pátio da escola, bem como a reciclagem dos restos de vegetais utilizados na merenda escolar.
O envolvimento fez o projeto crescer e chegar até a casa dos alunos. Segundo Ana Maria, indiretamente, “Aprender Reutilizando” atinge 5 mil pessoas no município de 10 mil habitantes.
Hoje, os alunos realizam diversas atividades envolvendo sustentabilidade. A produção de sabão em barra e líquido com a reutilização de óleo é uma delas. O programa acontece com alunos do Ensino Médio, mas a sustentabilidade é um assunto abordado desde o Ensino Fundamental na instituição. Ana Maria conta que a fama do projeto é tão grande que os alunos mais novos, quando chegam ao Ensino Médio, já estão ansiosos para realizar as atividades.
Além do importante da direção com a disponibilização de ferramentas para a realização da horta, a professora de Biologia conseguiu ainda fechar uma parceria com empresas municipais que doam materiais que seriam descartados no lixo e que são reutilizados e reciclados no projeto escolar. A partir dessas parcerias, os alunos construíram bancos usando trabalho manual feitos por eles próprios com pallets doados, confecção de almofadas com reaproveitamento de sobras de tecidos e fibras doados por estofarias e malharias. A montagem e costura dessas almofadas se deu por meio da professora de literatura, que realiza patchwork nas horas livres e ensinou os alunos a costurarem. Além disso, os alunos realizaram o recolhimento de tampas de garrafas pets, que serão doados para a Liga de combate ao Câncer.
A diretora Bernadete Maria Vuaden Federico, no cargo desde outubro de 2017, conta que a direção apoiou o projeto desde o início, disponibilizando inclusive o espaço para o plantio e a cultivação da horte. Complementa contando que após a primeira colheita, os alimentos foram utilizados na merenda dos alunos.
– Eu acredito muito na importância do projeto dentro da escola e também dos ensinamentos e vivência que o projeto propiciou. Eu acho que são as pequenas ações que fazem a diferença – reitera a diretora.
Hoje o projeto perdeu o caráter de “projeto de aula”, pra se tornar um projeto da comunidade. Segundo a professora, eles trabalham não só no local, mas dentro de suas residência, mobilizando familiares e comunidade escolar, despertando valores sustentáveis no dia-a-dia e não apenas no período escolar.
– Muitas vezes são eles que me procuram com uma ideia nova e que me pedem, por exemplo, mudinhas pra levarem pra casa e plantar– conclui Ana Maria.
Quem é a professora que idealizou o projeto?
Ana Maria Sandri Ribas do Amaral de 57 anos tem licenciatura em biologia pela UNIACELV e pós graduação em gestão ambiental e educação ambiental pela UNIVATES em Lajeado. Sua curiosidade e gosto por medidas e práticas sustentáveis trouxe pra toda comunidade de Roca Sales um novo olhar sobre esse assunto.