A tecnologia trouxe benefícios inegáveis para a Educação. Porém, junto com ela cresceram casos de obesidade e de sedentarismo entre os jovens. Para driblar problemas como esses, a Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da UFRGS (ESEFID) criou um projeto que promove a inclusão do telefone celular como ferramenta educativa e um motivador da prática de Educação Física. Lúdico e Tecnologia é realizado desde 2014 em quatro escolas da rede pública com baixo Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) em Porto Alegre. Atualmente, é um das iniciativas que figuram no Mapa de Boas Práticas na Educação, levantamento da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho que valoriza e dá visibilidade a iniciativas gaúchas de impacto social em educação formal ou não-formal.
Levando em consideração o alto número de atestados e evasões em Educação Física, com justificativas como doenças e indisposições, o educador Clézio José dos Santos criou o projeto Lúdico e Tecnologia. Há quatro anos, o programa é realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Balduino Rambo, na Escola Municipal de Ensino Médio e Fundamental Dolores Alcaraz Caldas e na Escola Estadual de Ensino Fundamental Cândido Portinari.
As atividades do projeto são planejadas a partir de um diagnóstico da realidade de cada escola, e os alunos que participam realizam oficinas de fundamentação teórica. As aulas são ministradas por dois bolsistas, enquanto outros três filmam com telefone celular os exercícios de diversos ângulos. Com um número significativo de material gravado, eles criam pequenos vídeos dos alunos realizando as atividades.
– A maior dificuldade é convencer os alunos de não postar os vídeos nas redes sociais, porque os alunos são menores e não queremos expô-los – complementa Clézio.
O professor de Educação Física Juliano Luiz Gomes da Silva, de 28 anos, participou durante dois anos do projeto como bolsista. Eles selecionavam modalidades esportivas, misturando o lúdico com o esporte. Segundo Juliano, aceitação por parte dos alunos foi alta.
Os bolsistas ainda editam o conteúdo desses vídeos com música, trilha sonora e efeitos. No “Dia do Lazer”, as gravações são apresentadas para todos compartilharem seus vídeos. O resultado foi que à medida que os alunos se enxergavam nas gravações realizando as atividades, eles não queriam mais ficar de fora.
Segundo docentes e familiares, as mudanças comportamentais são percebidas no cotidiano e nas outras disciplinas.
– Eu morava próximo à escola onde participava do projeto, então, às vezes, aconteceu de ver alguns dos alunos em regiões perto de ‘bocas’, mas nas nossas aulas eles se entregavam ao ser criança – lembra Juliano.
Uma das conclusões sobre o projeto é que, ao contrário do que se imaginava, as crianças não queriam aprender só futsal nas aulas de Educação Física, mas ampliar o conhecimento por outros, como vôlei, expressão corporal, judô. A cada aula, os monitores traziam novas modalidades. Desde então, o projeto já atingiu cerca de 400 alunos diretamente e 2 mil pessoa indiretamente.
Clézio afirmou que apesar das dificuldades, as expectativas do projeto para os próximos anos é ampliar o numero de crianças atendidas e, na medida do possível, ampliar para outras disciplinas atuarem junto à Educação Física.
– Apesar de sermos afetados pela atual conjuntura econômica em que são retirados incentivos públicos para uma educação de qualidade, a nossa intenção é de, aos poucos, levar a ideia do projeto para um maior numero de escolas pela convicção que temos dos resultados que já foram alcançados até o momento.
Quem é o idealizador do Projeto Lúdico e Tecnologia?
Clézio José dos Santos Gonçalves, 55 anos, é professor com graduação em Educação Física e especialização em Educação e Expressão Corporal. Tem dois mestrados na área e é Doutor em Educação e Neurociências.