O mau cheiro do Arroio Bühler, em Ivoti, afeta não só os transeuntes, mas, principalmente, os moradores dos bairros divididos pelo córrego. Inconformado, um aluno do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Engenheiro Ildo Meneghetti levou o assunto para sala de aula. Foi assim que, meses depois, um problema cotidiano apresentado por um estudante se transformou no projeto Juntos pela saúde do Arroio Bühler. A ação conscientizou alunos, engajou comunidade e ganhará continuidade pelo Centro de Educação Ambiental do Município de Ivoti (Ceami). Esse foi um dos projetos selecionados em 2017 para integrar o Mapa de Boas Práticas na Educação, da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho que reúne iniciativas de impacto social e transformadoras para a população.
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A pesquisa sobre a poluição do córrego foi o assunto escolhido pela turma de 23 alunos da escola municipal para apresentar na feira de ciências, realizada em agosto. Trabalhando a temática da água em sala de aula, a professora Giséli Lindemann Buerger não teve dúvida quanto ao assunto apresentado pelos alunos.
– Digo para eles que trabalhar com pesquisa é estudar necessidades reais. Muitos já tinham o olhar atento para a poluição do arroio, daí a escolha foi natural – explica a pedagoga de 36 anos.
Para entender o assunto e como funciona o tratamento de esgoto de Ivoti, os alunos ouviram o engenheiro responsável pelo saneamento da Prefeitura e uma bióloga (foto abaixo) do Centro de Educação Ambiental do Município de Ivoti (Ceami), ligado à Secretaria Municipal de Saneamento e Meio Ambiente. Além disso, os alunos observaram a instalação de fossa séptica em terreno residencial. Após, definiram método e técnicas de investigação para reduzir a poluição do riacho.
– Em Ivoti, a maioria das residências ainda tem fossas individuais, que depois segue para a rede coletora. É um tratamento eficaz se a fossa for limpa a cada dois anos, em média, porém isso não ocorre. A limpeza das fossas precisa ser estimulada. O problema é que a população só lembra da limpeza tarde demais – explica Tatiane Gutheil, bióloga e educadora ambiental do Ceami.
Os alunos visitaram as residências que margeiam o arroio e entrevistaram 230 moradores. Observaram as condições desde a nascente e perceberam que o dano ambiental é causado pela ação humana. A maioria dos moradores não sabia da necessidade de realizar a limpeza de suas fossas e poucos realizam a limpeza adequadamente.
– Acreditávamos que a poluição do Arroio Bühler era causada pela poluição das fábricas do bairro, porém, descobrimos que a principal causa da sujeira e do odor é a falta de limpeza das fossas das casas dos bairro, já que nosso município não tem estações de tratamento de esgoto que alcance todas as residências – acrescenta Giséli.
Para esclarecer à população sobre a limpeza das fossas e o descarte de lixo, os alunos produziram cartazes e realizaram paradas no trânsito nos bairros da região.
– As novas informações e as atividades aumentaram o interesse e a empolgação deles. Eram apenas 23, mas eles movimentaram toda a comunidade – diz Giséli.
O projeto engajou também as famílias dos alunos, que também receberam lições ambientais. Como os pais de Monique Corrêia, 12 anos, uma das alunas.
– Ela estava completamente envolvida e ao perceber o interessa dos moradores, orgulhou-se de ensinar também – conta a mãe, Silvani Corrêia.
Mas o maior êxito do projeto estava por chegar. A partir de agora, o Ceami garante a continuidade da ação e se comprometeu a pesquisar os outros riachos do município ao longo de 2018, ampliando a ação a outros pontos do município. Monitores Ecológicos, que reúne estudantes das escolas da rede municipal, vão trabalhar juntos. Assim, Juntos pelo Arroio Bühler contempla mais um dos objetivos do Mapa de Boas Práticas, que é o de inspirar a população e agentes públicos a replicar ações que fazem diferença nas comunidades.
– Vamos propor ações de limpeza das fossas, de conscientização para a qualidade dos arroios e a ação dos mesmos pelas escolas. Nosso objetivo é valorizar e ampliar o que é bem feito pelos estudantes. Estudamos o tema água, mas a partir de agora, estamos mais comprometidos nessa rede – diz Tatiane, que vai liderar os “multiplicadores ambientais”.
Orgulhosa da projeção conquistada pelo projeto nascido em aula, Giséli comemora a conquista e elogia a decisão. A semente da conscientização ambiental está plantada. Assim como a saúde do Arroio Bühler, que dentro de alguns anos pode estar restaurada.
– O município está atento e consciente para a questão ambiental e tentando fazer algo para melhorar. Nós temos de fazer a nossa parte. A população também é responsável pelo bem-estar do ambiente – conclui.
Quem é a professora do projeto Juntos pela saúde do Arroio Bühler?
Pedagoga nascida em Candelária e formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Giséli Lindemann Buerger (à esq.), 36 anos, é professora da rede municipal há seis anos e da rede privada há cerca de 15. Está concluindo uma especialização em Tecnologia da Informação e Comunicação na UFRGS. Em 2016, foi uma das vencedores do 4º Prêmio RBS de Educação com “Multiplicadores de leitura”, no Colégio Marista Pio XII, de Novo Hamburgo.